Por meio de reuniões online, iniciativa desenvolvida no ano passado tem o intuito de contribuir para o bem-estar dos docentes

Uma das classes profissionais mais importantes desde que a pandemia desembarcou no Ceará, os professores são, muitas vezes, uma linha de frente esquecida. Sob a premissa de que é preciso “cuidar de quem cuida”, porém, uma iniciativa do Instituto Myra Eliane desenvolvida durante a crise sanitária tem um objetivo principal: ouvir, acolher e contribuir para o bem-estar social e emocional dos docentes.

“Todos os profissionais de educação estão também na linha de frente da pandemia, e percebemos que eles não tiveram essa visibilidade. Porque as escolas pararam fisicamente, infelizmente, mas no campo virtual, os professores se desdobraram para encontrar meios de acolhimento e assistência aos alunos e às famílias em muitas dimensões”, pontua Vinícios Rocha, diretor pedagógico do Instituto.

Por meio de reuniões online nas chamadas “web salas”, o Myra Eliane passou a acolher os profissionais de municípios parceiros em atividades de incentivo ao autocuidado, num momento que tem exigido de todos a reinvenção da docência. “Temos uma base de trabalho a partir da educação em valores humanos, e mesmo diante das dificuldades a energia positiva do amor, da paz, da verdade, da retidão e da não-violência podia continuar fluindo por outros canais. Então, nas web salas, foram realizados a escuta ativa e o acolhimento, construindo espaços de escuta sensível e empatia”, explica o diretor.

Além disso, as reuniões estimulam momentos de meditação, trabalho de respiração e até canto, a fim de que os participantes entrem em sintonia.

“𝙊𝙨 𝙥𝙧𝙤𝙛𝙚𝙨𝙨𝙤𝙧𝙚𝙨 𝙩𝙖𝙢𝙗𝙚́𝙢 𝙚𝙨𝙩𝙖̃𝙤 𝙥𝙖𝙨𝙨𝙖𝙣𝙙𝙤 𝙥𝙤𝙧 𝙥𝙧𝙤𝙘𝙚𝙨𝙨𝙤𝙨 𝙙𝙚 𝙖𝙙𝙤𝙚𝙘𝙞𝙢𝙚𝙣𝙩𝙤, 𝙖𝙣𝙨𝙞𝙚𝙙𝙖𝙙𝙚, 𝙩𝙧𝙞𝙨𝙩𝙚𝙯𝙖 𝙚 𝙡𝙪𝙩𝙤, 𝙖𝙨𝙨𝙞𝙢 𝙘𝙤𝙢𝙤 𝙩𝙤𝙙𝙤𝙨 𝙣𝙤́𝙨. 𝙀𝙡𝙚𝙨 𝙨𝙖̃𝙤 𝙨𝙚𝙧𝙚𝙨 𝙚𝙥𝙞𝙨𝙩𝙚̂𝙢𝙞𝙘𝙤𝙨, 𝙩𝙧𝙖𝙗𝙖𝙡𝙝𝙖𝙢 𝙘𝙤𝙢 𝙤 𝙨𝙖𝙗𝙚𝙧, 𝙢𝙖𝙨 𝙩𝙖𝙢𝙗𝙚́𝙢 𝙘𝙤𝙢 𝙨𝙚𝙣𝙩𝙞𝙢𝙚𝙣𝙩𝙤𝙨. 𝙋𝙧𝙚𝙘𝙞𝙨𝙖𝙢 𝙨𝙚𝙧 𝙘𝙪𝙞𝙙𝙖𝙙𝙤𝙨, 𝙧𝙚𝙘𝙚𝙗𝙚𝙧 𝙖𝙢𝙤𝙧, 𝙩𝙚𝙧 𝙚𝙨𝙨𝙖 𝙚𝙨𝙘𝙪𝙩𝙖 𝙖𝙩𝙞𝙫𝙖. 𝙀́ 𝙥𝙧𝙚𝙘𝙞𝙨𝙤 𝙦𝙪𝙚 𝙤𝙨 𝙨𝙞𝙨𝙩𝙚𝙢𝙖𝙨 𝙚 𝙜𝙚𝙨𝙩𝙤𝙧𝙚𝙨 𝙨𝙚 𝙢𝙤𝙗𝙞𝙡𝙞𝙯𝙚𝙢 𝙥𝙖𝙧𝙖 𝙞𝙨𝙨𝙤”, alerta Vinícios.


𝗖𝘂𝗶𝗱𝗮𝗱𝗼𝘀

Laurione Costa, professora há 18 anos, é uma das profissionais beneficiadas pelo projeto, e o avalia como “fundamental” diante desse momento “bem delicado e atípico” para os profissionais da educação. “Trabalho com o público infantil, e o contato é primordial, sentimos essa necessidade de socializar os conhecimentos e sentimentos. Não é a mesma coisa sendo virtual, isso nos deixa inseguros e descontentes”, reconhece.

Além da insegurança, “os medos e incertezas” também são compartilhados durante as reuniões, que funcionam, segundo Laurione, como “acalantos” no cenário atual. “Sem o projeto, estaria sendo bem mais difícil. Nossa profissão já exige muito da nossa saúde mental, e conheço colegas que estão em situação mais complicada do que nós, que podemos fazer parte desse projeto. É importante que a gente se sinta bem. Foi um acalanto pra alma, um afeto sentido, não só falado. Quando a gente se sente importante, dá mais importância ainda ao nosso trabalho, às crianças e às famílias”, analisa.

Para ela, se sentir apoiada é imprescindível para a execução correta e bem sucedida do dever profissional.

“𝙋𝙤𝙧𝙦𝙪𝙚 𝙦𝙪𝙖𝙣𝙙𝙤 𝙖 𝙜𝙚𝙣𝙩𝙚 𝙨𝙚 𝙨𝙚𝙣𝙩𝙚 𝙖𝙥𝙤𝙞𝙖𝙙𝙖, 𝙖 𝙜𝙚𝙣𝙩𝙚 𝙨𝙚𝙣𝙩𝙚 𝙢𝙖𝙞𝙨 𝙛𝙖𝙘𝙞𝙡𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚 𝙙𝙚 𝙖𝙥𝙤𝙞𝙖𝙧 𝙤 𝙤𝙪𝙩𝙧𝙤. 𝙀́ 𝙪𝙢 𝙩𝙧𝙖𝙗𝙖𝙡𝙝𝙤 𝙙𝙚 𝙜𝙧𝙪𝙥𝙤: 𝙘𝙤𝙢𝙪𝙣𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚 𝙚𝙨𝙘𝙤𝙡𝙖𝙧, 𝙥𝙧𝙤𝙛𝙚𝙨𝙨𝙤𝙧𝙚𝙨, 𝙛𝙖𝙢𝙞́𝙡𝙞𝙖𝙨, 𝙩𝙤𝙙𝙤𝙨 𝙪𝙣𝙞𝙙𝙤𝙨 𝙣𝙤 𝙤𝙗𝙟𝙚𝙩𝙞𝙫𝙤 𝙦𝙪𝙚 𝙚́ 𝙤 𝙗𝙚𝙢-𝙚𝙨𝙩𝙖𝙧 𝙙𝙖𝙨 𝙣𝙤𝙨𝙨𝙖𝙨 𝙘𝙧𝙞𝙖𝙣𝙘̧𝙖𝙨. 𝘼 𝙜𝙚𝙣𝙩𝙚 𝙨𝙚 𝙧𝙚𝙞𝙣𝙫𝙚𝙣𝙩𝙖 𝙥𝙚𝙣𝙨𝙖𝙣𝙙𝙤 𝙣𝙚𝙡𝙖𝙨”, emociona-se Laurione Costa.


𝗦𝘂𝗽𝗼𝗿𝘁𝗲


A psicopedagoga Ticiana Santiago observa que as dificuldades técnicas, por falta de equipamentos e formação para o ensino remoto; e a responsabilidade de manter e fortalecer o vínculo escola-aluno-família pesaram sobre os ombros dos profissionais da educação, evidenciando a necessidade de oferecer suporte.

“Esse momento é prejudicial se o professor não encontrar uma rede de apoio para lidar com o período. É preciso que se garanta um suporte, uma escuta e uma orientação. Cuidar deles é ter suporte estratégico pro desenvolvimento de saúde mental das famílias, dos alunos e deles mesmos”, finaliza.